Lá estava ela.
Sentada num banco sob uma àrvore de algum século distante. Os pés frios sobre sandálias sobre pedras sobre o chão. Um chão de pedras - paralelepípedos de algum século distante.
Ela mal podia sentir os desníveis dos paralelepípedos, de toda aquela altura em que ela estava, toda aquela massa de couro, cola, linha, látex... Formava bem uns 2 centímetros de distância entre o pé e a pedra.
Ela afastou as mãos do corpo, os dedos para frente procurando os limites do banco - banco de cimento daqueles pré-moldados, com certeza desse século -, quando os dedos já estavam flutuando, rapidamente ela os fechou, segurando-se na superfície abaulada da quina. A respiração ofegante.
Inspirou e começou a virar os pés para fora, os calcanhares a milímetros das pedras. Pôde sentir o calor que delas irradiava, um calor de um dia inteiro, de séculos...
Num repente, passou as pontas dos pés arranhando os tendões e viu-se livre do peso das sandálias. E finalmente afundou os pés nas pedras, abrindo todos os dedos, esparramando o peito de cada pé.
Queria o calor daquelas pedras, da terra abaixo delas. Começou a atritar os pés violentamente sobre os paralelepípedos, pra frente pra trás, fundo, pra frente pra trás, pra dentro... Sua aspereza contra a deles. Os dedos batendo nos vãos entre uns e outros, tirando a epiderme dos mindinhos, lascando as unhas...
Caiu de joelhos, despencou de bruços, os seios sobre as pedras, o sexo sobre as pedras. Esfregou os punhos, o antibraço, as maçãs do rosto esfolando sobre as entranhas das pedras. Deixando pele nas irregularidades.
Bateu a testa suada no paralelepípedo e foi amassando, sombrancelha, pálpebras, lábios... Abriu a boca e lambeu o sangue e o suor das pedras. Eram seus. Então pôs-se a chorar.
E lá ela ficou.
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
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