quinta-feira, 25 de junho de 2009

a mulher gigante.

Ela estava enorme, tinha dores constantes. Apertado tudo estava apertado. Ela não cabia em suas roupas, não cabia no seu quarto, na sua casa, na sua rua. Não mais. Ela crescera. Seus braços que braços! atravessavam ruas, suas pernas dobravam esquinas.
Quando sonhava eram as poucas vezes em que ela deitava, abria os braços, era livre, ainda assim sempre tinha alguém para cutucá-la, quase sempre ela mesma, de tão grande que era. Havia sempre algum dedo seu que acabava encostando no imenso corpo.
Sofria por ser tão grande, machucava a todo momento. Não sabia como ser menor, não podia. E a culpa era imensurável. Batia nos outros, machucava as pessoas. Incomodava... Aquelas pernas pra todo lado.
E ela não queria, não podia, por isso era presa. Contorcida, alimentava-se das migalhas que o povo colocava nos seus dedos espremidos entre as grades. E crescia. Mais e mais.
Era prisioneira. Do tempo, da culpa, das pessoas, dela mesma.
Precisava respirar. estava maior do que nunca, pelo visto estaria cada vez maior. Não conseguia dormir, já não sonhava, não abria os braços. Ela queria fugir, mas não tinha para onde. Não sabia como. Mas sabia que estava sufocando. Morreria. Só assim tomaria uma atitude. Instinto. Sobrevivência.
Começou a se debater, perdeu a consciência, teve espasmos. A cidade inteira acordou. Terremoto. Ela se debatia, os edifícios desmoronavam, toda a cidade ruindo. Sacudiu o mundo. Cidades inteiras inundadas, avalanches. Corpos espalhados pelas ruínas. O planeta balançando no espaço, os seres explodindo com a pressão atmosférica. Mas nada disso ela viu. E então ela se desprendeu. Caiu no vazio cheio de estrelas. Inconsciente. Inerte. Respirou fundo. Tinha o infinito pela frente. E ela cabia nele. Abriu os braços. Olhou em direção ao mundo que deixara. Achou tudo muito apetitoso. Abriu a boca e o engoliu (tornara-se grande o suficiente pra isso).
Então sorriu e dormiu para sempre na vastidão inifinita.