"... O rosa das rosas era de sangue e o sangue escorria pelas mãos brancas dos enfermeiros pálidos. E os enfermeiros limpavam o sangue das mãos nos brancos aventais, que já não ficavam tão brancos. Centenas de enfermeiros caiavam os muros (antes cobertos de propaganda política), tudo pintavam de branco, de cal, muros, paredes. Fachadas, portas de madeira e portas de metal e até mesmo pessoas. Tudo ficava branco. (...) ...os anestesistas atiravam bombas aqui e ali, dentro de uma casa comercial e também das particulares, até mesmo dentro das creches, para que todos dormissem e para que ninguém visse que o sangue das rosas manchava de rosa - um rosa puro de flor -, manchava todas as coisas brancas, todas as pessoas pálidas e, com mais fúria, mais rosas os enfermeiros pálidos estrangulavam raivosos, e a raiva rosava seus rostos, e o sangue escorria de suas mãos, dos caules, das flores - e as flores amarelas, de vergonha, viravam rosas e eram também estranguladas e também era rosa o seu sangue - e o sangue e as rosas enchiam as ruas que eram brancas, corriam para a praça, como correm os rios para o mar, rios de rosas, rios de sangue."
A deliciosa e sangrenta aventura latina de JANE SPITFIRE - AUGUSTO BOAL... pág.217.
- sobre um sonho da nossa (anti)heroína no qual uma junta médica (e não militar!) realiza um golpe de estado. Genial.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
domingo, 17 de agosto de 2008
Cacilda.
Eu ouvi o que você disse, eu juro, e discordei. Você ouviu o que eu disse, você jura, e discordou.
Poderia tudo ser verdade? Apenas opiniões severamente distintas? Ou não tão severas assim...
Definitivamente havia um ruído na comunicação, algo fluido que preechia o vazio entre nós, e distorcia tudo o que falávamos. Refratando, refletindo... Assim como eu refletia e não conseguia conceber tais sonoridades. Seriam essas as suas palavras? Prefiro acreditar que você também refletia - às vezes eu tinha dúvidas. Ou talvez o fluido estivesse meramente em nós, talvez só em mim, talvez em todos nós - incluindo todos os demais que tentavam traduzir -, distorcendo o nosso entendimento correto das coisas.
Palavra é muito pouco para traduzir o que se passa em nossa mente, dificilmente conseguimos dizer exatamente o que pretendíamos. "o que o autor quis dizer quando disse...?" Lá eu vou saber! O mundo das idéias de cada um é completamente obscuro. Para todos, você é o que a sua linguagem diz. E naquele momento, sua linguagem me soava muito mal. Sua língua passava áspera no meu peito sempre que você dizia que era eu quem o fazia. Eu sentia uma dor em dose homeopática dupla - a minha dor e a sua -, aos poucos arranhando meu peito e meus olhos, respectivamente. Você sentia a minha dor?
Toda a sala era ruído, a angústia tornava-se desesperadora e não sabíamos fazer parar. Eu até suportaria, se houvesse apoio. Mas eu estava só, e chorei, chorei incontrolavemente. As lágrimas ardiam nos olhos arranhados e eu olhava-te fixamente, distorcido pela água, desfigurado em minha mente.
Ninguém mais suportaria. Os ruídos alheios graduavam-se cada vez mais altos, na aflição do fim de tudo aquilo. E acabou uníssono, quase um grito, grito não, um berro! E silêncio... Depois da tempestade vem a bonança, e os leões se satisfizeram.
Mas você, não. Você sentia dor, não sei se a sua ou a minha.
Já se perguntou de quantas maneiras você pode soar?
Poderia tudo ser verdade? Apenas opiniões severamente distintas? Ou não tão severas assim...
Definitivamente havia um ruído na comunicação, algo fluido que preechia o vazio entre nós, e distorcia tudo o que falávamos. Refratando, refletindo... Assim como eu refletia e não conseguia conceber tais sonoridades. Seriam essas as suas palavras? Prefiro acreditar que você também refletia - às vezes eu tinha dúvidas. Ou talvez o fluido estivesse meramente em nós, talvez só em mim, talvez em todos nós - incluindo todos os demais que tentavam traduzir -, distorcendo o nosso entendimento correto das coisas.
Palavra é muito pouco para traduzir o que se passa em nossa mente, dificilmente conseguimos dizer exatamente o que pretendíamos. "o que o autor quis dizer quando disse...?" Lá eu vou saber! O mundo das idéias de cada um é completamente obscuro. Para todos, você é o que a sua linguagem diz. E naquele momento, sua linguagem me soava muito mal. Sua língua passava áspera no meu peito sempre que você dizia que era eu quem o fazia. Eu sentia uma dor em dose homeopática dupla - a minha dor e a sua -, aos poucos arranhando meu peito e meus olhos, respectivamente. Você sentia a minha dor?
Toda a sala era ruído, a angústia tornava-se desesperadora e não sabíamos fazer parar. Eu até suportaria, se houvesse apoio. Mas eu estava só, e chorei, chorei incontrolavemente. As lágrimas ardiam nos olhos arranhados e eu olhava-te fixamente, distorcido pela água, desfigurado em minha mente.
Ninguém mais suportaria. Os ruídos alheios graduavam-se cada vez mais altos, na aflição do fim de tudo aquilo. E acabou uníssono, quase um grito, grito não, um berro! E silêncio... Depois da tempestade vem a bonança, e os leões se satisfizeram.
Mas você, não. Você sentia dor, não sei se a sua ou a minha.
Já se perguntou de quantas maneiras você pode soar?
sábado, 2 de agosto de 2008
uma porção de tempo.
Um tombo.
meu balão voou.
no meio do circo.
eu estou estática.
a roda ainda gira.
o balão sobe.
os transeuntes passam.
o tempo acaba sem parar.
meu balão voou.
no meio do circo.
eu estou estática.
a roda ainda gira.
o balão sobe.
os transeuntes passam.
o tempo acaba sem parar.
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