Eu ouvi o que você disse, eu juro, e discordei. Você ouviu o que eu disse, você jura, e discordou.
Poderia tudo ser verdade? Apenas opiniões severamente distintas? Ou não tão severas assim...
Definitivamente havia um ruído na comunicação, algo fluido que preechia o vazio entre nós, e distorcia tudo o que falávamos. Refratando, refletindo... Assim como eu refletia e não conseguia conceber tais sonoridades. Seriam essas as suas palavras? Prefiro acreditar que você também refletia - às vezes eu tinha dúvidas. Ou talvez o fluido estivesse meramente em nós, talvez só em mim, talvez em todos nós - incluindo todos os demais que tentavam traduzir -, distorcendo o nosso entendimento correto das coisas.
Palavra é muito pouco para traduzir o que se passa em nossa mente, dificilmente conseguimos dizer exatamente o que pretendíamos. "o que o autor quis dizer quando disse...?" Lá eu vou saber! O mundo das idéias de cada um é completamente obscuro. Para todos, você é o que a sua linguagem diz. E naquele momento, sua linguagem me soava muito mal. Sua língua passava áspera no meu peito sempre que você dizia que era eu quem o fazia. Eu sentia uma dor em dose homeopática dupla - a minha dor e a sua -, aos poucos arranhando meu peito e meus olhos, respectivamente. Você sentia a minha dor?
Toda a sala era ruído, a angústia tornava-se desesperadora e não sabíamos fazer parar. Eu até suportaria, se houvesse apoio. Mas eu estava só, e chorei, chorei incontrolavemente. As lágrimas ardiam nos olhos arranhados e eu olhava-te fixamente, distorcido pela água, desfigurado em minha mente.
Ninguém mais suportaria. Os ruídos alheios graduavam-se cada vez mais altos, na aflição do fim de tudo aquilo. E acabou uníssono, quase um grito, grito não, um berro! E silêncio... Depois da tempestade vem a bonança, e os leões se satisfizeram.
Mas você, não. Você sentia dor, não sei se a sua ou a minha.
Já se perguntou de quantas maneiras você pode soar?
domingo, 17 de agosto de 2008
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2 comentários:
"Cacilda" era uma peça de um grupo do Vila Velha, que abordava como tema a "Incomunicabilidade Humana".
(só pra esclarecer... ;D)
"...Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente... "
ocasionalidades... adorei.
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