segunda-feira, 26 de maio de 2008

a dona da noite.

O menino conheceu a mulher. A mulher nem viu o menino. O menino admirou-se com o que viu. A mulher não lembrou seu nome. A mulher ocupava as noites do menino. As noites da mulher eram ocupadas demais.
O menino saiu na noite da mulher. A mulher viu o menino na noite que era dela. O menino envergonhou-se da mulher. A mulher achou graça do menino. O menino fez graça. A mulher acharia graça, pensou o menino. Mas a mulher estava muito ocupada...
O menino jogou-se na noite da mulher. A mulher socorreu o menino. O menino gemeu com os afagos da mulher. A mulher gozou com o menino. O menino disse palavras doces à mulher. A mulher deu o seu melhor ao menino.
O menino sonhou com a mulher. A mulher partiu com sua noite.
O menino acordou sozinho. A mulher dormiu com outro menino. Não um menino, um homem.
O menino perguntou-se "por quê?". A mulher respondeu-se "mulheres apaixonam-se por homens".
O menino ainda espera a resposta. E a mulher, a pergunta.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

ao mar aberto.

Ela nada, nada e nada.
Está muito fundo.
Ela não consegue alcançar a superfície.
Olha ao redor e nada.
Está muito fundo.
Não o suficiente para alcançar a superfície.
Precisa haver terra.
Sim, terra. A base para o impulso.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

a descoberta.

Não enxergava, e despiu-se na frente de todos.
Não esperava encontrá-los tão intensos.
Reprimida, tentou esconder-se. A antiga mortalha já não lhes servia.
Amedrontada, atirou pedras pela boca. Sentiu o refluxo. As pedras desceram violentamente pelas paredes de sua garganta, rasgando toda e qualquer tentativa de ser ouvida. Caindo pesado sobre sua voz já rouca.
Ainda que houvesse voz, não haveria público. Estavam todos alienadamente fissurados no seu corpo. Eram todos surdos, todos mudos. Apenas enxergavam. E apenas uma coisa.
Lutou o máximo que pôde, mas acabou estuprada - como todos os outros - e ouvindo a rouca voz ecoando no corpo nu.

domingo, 11 de maio de 2008

1º passo.

O amor é tão grande que irrita. A agressividade salta sem que eu perceba, cotidianamente. Mas o mundo não sou eu. Alguém a viu. Alguém que não tem culpa da minha irritação. E sentiu. E doeu. Muito. Não imagino o quanto. Não sou esse alguém.
Quanto mais amo, mais me irrito. Sinto o controle se esvaindo por meus dedos. E isso irrita. Muito. E a inconstante agressividade saltitante...

Triste para quem tanto ama não saber amar. Perdoem-me. Estou trabalhando nisso.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Ele.

Ele me maltrata, machuca mesmo. Quer que eu me livre de mim mesma e seja só dele, seja só ele. E eu não consigo ser só eu, sou eu e ele. Por que ele sou eu que não me vejo. E quando vejo não entendo o que vejo. E quando o quero não se mostra. E às vezes eu quero, e como quero! Por que ele também sou eu. Eu indiferente, inatingível, pura, livre de qualquer racionalidade estúpida.
Ele é essência, minha essência. Egoísta. Só a vontade dele importa. E ele permanece dentro de mim, não o vejo, mas sei que está lá. Um movimento qualquer e eu o sinto. Ainda lá, pronto para me levar à loucura quando bem entender. E me maltrata, machuca mesmo, faz cada absurdo... Como pode? Não o quero assim, não desta vez. E quando discordo, machuca. Machuca mesmo. E sempre discordo. Se não discordo hoje, é por que ontem já cedi. E quando eu cedo ele penetra, me faz gozar e continua lá. Não me dá descanso.
Preciso saber mantê-lo quieto. "Pronto. Sem movimentos bruscos"...
Ele nunca viu um mundo além do meu, e nem com o meu mundo ele se importa. Ignora-me. Simplesmente é, sempre foi e continuará sendo. Sem parar, sem explicações. Egoísta, dentro de mim.
Agora o quero. Faço movimentos bruscos e ele irrompe meu arredoma que é tão cheio de mim - puro ao meu ver - com sua pureza tão feia e mais pura que eu. Agora o vejo. E sinto um prazer que jamais poderia ter sentido se não fosse pela impureza da mistura, entre meu eu que não pertence a mim e eu acostumada a mim mesma. E eu quero mais. Mas ele machuca, e agora me faz machucar. Não o quero assim. Mas ele não pára, não enxerga. Egoísta. Mantém-se livre de qualquer complexidade do mundo, por minha causa. E permanece aqui dentro, inevitavelmente protegido por minhas pernas.

terça-feira, 6 de maio de 2008

naufrágio.

Triste, após onze horas-aula, olhar o celular e ver as horas.
Lembrei-me das palavras ontem proferidas por meu irmão: "a água tá entrando".

domingo, 4 de maio de 2008

o gosto do vinho.

Estava cansada de tanto esperar.
Como se não bastassem as olheiras, os olhos ainda tinham tinta da noite anterior. Preta. Contrastando com a claridade do meio-dia.
Sentia-me estranha. Desconcertada diante de todas aquelas pessoas amanhecidas. Limpas.
Queria um banho. Tinha suado bastante. Foi bom. Bom mesmo, me senti muito bem. Mas ele disse "tudo o que eu sinto quando te beijo é gosto de vinho".
Ah! Que alívio. Chegou.
Entrei no ônibus e dormi. A caminho de casa.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sonhando em ser um balde.

Pensava. "Por que fazer um blog se não tenho colaboração alguma a dar ao mundo?"
Ora mas que prepotência minha...
Somos seis bilhões de seres humanos, um bilhão só de chineses. Sessenta milhões de brasileiros tentam equilibrar-se na finíssima linha da pobreza e são eles um terço de todos os brasileiros existentes! Quem nesse mundo-de-meu-Deus ouvirá o que digo? Nem se eu fosse o Mao Tsé Tung (que falava chinês), ou até mesmo a Marilyn Monroe (que falava a língua mais falada do planeta), eu seria um baldinho de areia sequer nesse marzão de gente. (Se nem com o que a Marilyn dizia a gente se importa, quanto mais!)
Decidido, nada de altruísmo então. Fiz um blog por que eu quis. That´s all.